Sapatilhas
A história do surgimento da sapatilha de ponta se confunde com a história do próprio ballet clássico, conferindo uma aura de encantamento sobre os sapatos que faziam as bailarinas flutuarem. As primeiras sapatilhas eram feitas de couro, papel, lã, tecido o que mais houvesse disponível para criar a sustentabilidade das pontas, mesmo que isso significasse conforto zero.
Portanto, durante muitos anos, se pensou que bailarinas somente deviam utilizar sapatilhas produzidas artesanalmente (o que, por sinal, acontece ainda hoje) e com materiais naturais e flexíveis. Tornar o processo de fabricação automatizado e substituir os materiais por plástico, o que traria maior controle de custos e menores preços, foi inaceitável por anos. Mas após algumas tentativas, a maioria dos fabricantes fez exatamente isso.
A Freed foi a pioneira, introduzindo no mercado as Studio I e II para iniciantes que não são fabricadas artesanalmente, mas que ainda possuem materiais naturais. Logo após, a tecnologia elastomérica da Gaynor, protegida inclusive por patente, se espalhou pelo mundo. No entanto, a maioria dos profissionais e estudantes ainda utilizam as sapatilhas tradicionais.
Várias aquisições, fusões e alterações de sociedade foram feitas, ao longo dos anos, entre os fabricantes de sapatilhas de ponta. Quando a Selva decidiu fechar as portas, em 1970, não houve comprador interessado em dar continuidade ao seu processo de fabricação. A Capézio adquiriu a marca Selva e interrompeu a linha de produção. Em 1987, a Frederick Freed Ltd foi comprada pela Chacott e agora a Repetto é propriedade da Gamba.
O fato de alguns poucos fabricantes exibirem interesse nessas empresas é uma evidência de que a atividade é pouquíssimo lucrativa e seu potencial de crescimento é limitado. Nesse mundo industrializado, é óbvio que esse é o fator determinante para que o mercado continue aquém de nossas necessidades. Para muitas dessas empresas, fabricar sapatilhas de ponta é um trabalho de amor ao ballet e por isso acabam subdividindo-se em atividades um pouco mais lucrativas como calçados e vestimentas para dança em geral.
A mudança ocorre a passos de formiga. Embora novas tecnologias e materiais mais duráveis tenham sido introduzidos, há ainda um longo caminho a ser percorrido e por isso é tão importante manter esse nosso diálogo. O Ponta Perfeita é apenas um canal, mas todas nós podemos contribuir de alguma maneira.
Os fabricantes de sapatilhas de ponta disponibilizam inúmeros tamanhos, larguras e durezas em seus produtos. Não é raro encontrar as letras S, M e W ou até mesmo as indicações X, XX, XXX e XXXX. Todos possuem marcações diferentes que variam não só entre marcas, mas também entre modelos do mesmo fabricante! Por isso, é tão importante identificar os símbolos e as marcações utilizadas pelo fabricante da sua sapatilha na hora de comprá-la, principalmente com a facilidade da internet.
Ainda assim, não é rara aquela sensação de engano. Que atire a primeira pedra à bailarina que nunca pensou: “Poxa… tenho certeza que comprei o mesmo número daquela sapatilha velhinha e que estava maravilhosa no meu pé. Mas por que diabos o mesmo número não deu certo?”. Não… não foi seu pé que inchou. E você também não engordou. O fabricante pode ter simplesmente utilizado um pouquinho mais de cola que o normal ou uma camada a mais de material resistente. Infelizmente, a característica artesanal desse mercado o torna muito vulnerável.
É muito importante lembrar que, mesmo dentre modelos do mesmo fabricante, pode haver divergências nos tamanhos. Portanto, verifique se o modelo que você usa possui a numeração padrão do fabricante.
Além disso, vale lembrar que mesmo utilizando as tabelas, isso não quer dizer que terá 100% de precisão. Elas servem apenas como guias para a aquisição de sua sapatilha e diminuem sensivelmente a chance de erro. Mas lembre-se que o ideal é sempre estar presente para fazer o ajuste correto.